Na verdade quem movimentava o veraneio eram meus dois irmãos, João Pedro e João Paulo, porque naquela época homem podia tudo e mulher, quase nada, então, eles tinham várias namoradas e muitos amigos, saiam bastante, enquanto que a minha irmã mais velha a Maria Ines, dona de uma beleza de parar o trânsito, era super caseira. Eu, a quarta filha, sonhava em fazer parte da turma dos guris. Essa coisa de ser a do meio me deixava muito braba, porque não tinha idade suficiente para acompanhar os mais velhos e não queria fazer parte do grupo dos miúdos.
O meu reinado era a casa da Maricota, minha madrinha. Viúva de um médico amigo da minha família, ela tinha filhos adultos, então quando eu ia para lá tudo girava ao meu redor. Isso acontecia geralmente aos domingos após a missa das 18h. Eram três filhos homens e uma mulher - a Maria Virginia, que era encantada em mim e eu nela, pois era uma jovem linda e alegre, e eu sonhava em ser como ela quando crescesse. Ela dedicava horas do seu dia penteando os meus cabelos, que eram longos. Tinha dias que ela me maquiava e vestia roupas de gente mais velha, coisa que eu adorava, porque tudo o que eu queria era parecer com mais idade. O legal é que lá eu reinava absoluta, pois quando se tem família grande as normas são iguais para todos, apesar de algumas diferenças na época dos namoros, quando os guris ferviam e as meninas, quando namoravam, tinham que ficar com um “chá de pêra”. Não tinha moleza porque o controle era intenso. Fico pensando que os coitados dos pretendentes tinham mesmo que querer muito namorar uma das filhas do coronel. Tudo que eu mais gostava era quando a Maricota pedia ao meu pai que eu fosse passar uns dias na casa dela. Ele, que a apreciava muito, sempre permitia e eu ia faceira da vida. Tinha um dia da semana em que isso era sagrado e quando acordava, recebia café na cama com pão cortado em pedaços e coberto de mel caseiro. Vem daí o meu gosto por mel. Adoro mel!
Bem, são muitas as histórias e as lembranças e, certamente dariam um livro. O tempo passou, os amigos seguiram as suas vidas, mas os que permaneceram ligados a Torres continuam a tradição através da geração dos nossos filhos e, no meu caso, dos netos - a filha da minha filha, minha primeira neta, Martina, estreou seu primeiro veraneio. Na praia de Torres, é claro.
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