Pensando nesta semana que imagino que seja super atarefada para todos e também lembrando a leitura que fiz neste domingo no jornal Zero Hora, quero recomendar a crônica da Martha Medeiros, uma especialista em dizer coisas que as mulheres sentem. Vale como reflexão para o natal.
MARTHA MEDEIROS - Carta ao Papai Noel
Meu sonho é um mundo classudo e isso não tem nada a ver com roupas, carros ou joias.
Se você ainda não aderiu à campanha promovida pelos Correios, de buscar uma cartinha escrita por uma criança carente e ser seu Papai Noel, largue tudo o que está fazendo e trate de colocar o gorro e vestir as botas.
Nada pode ser mais gratificante nesta época do ano do que atender ao pedido de meninos e meninas cujo sonho é ter o uniforme do seu time, ter uma casinha de bonecas, ter material escolar, ter uma bola, ter um skate. Eles não pedem novos iPods e iPhones, não pedem notebooks, games ou viagens de intercâmbio, eles pedem a nostalgia dos nossos desejos infantis. Um passo a frente para eles, um resgate importante para nós, que temos tudo, menos a lembrança de um tempo em que também sonhávamos com o prosaico.
Se eu acreditasse em Papai Noel, escreveria para ele solicitando que essas crianças sejam também atendidas naquilo que elas nem pedem: afeto, cuidado, educação e acesso ao lado onírico da vida. Que essas crianças consigam assistir aos comerciais de tevê sem se sentirem excluídas desse universo megaconsumista e tecnológico, que elas continuem sonhando com casinhas de bonecas e carrinhos, sem desmerecer o que é de plástico.
E pediria também, Papai Noel, que essas crianças tenham um pai, uma mãe, um avô, uma avó, um tio, um irmão mais velho, algum familiar que lhes dê um foco, que passe adiante um valor maior, que saiba ensiná-los a distinguir entre o fútil e o primordial, lembrando que o primordial é imaterial: valorização da música, da arte, do esporte, da saúde, dos bons modos, da elegância de atitude. Ser elegante não é coisa de gente rica.
Tem muita gente rica que nem é. Ser elegante é não poluir a cidade, não ser arrogante, não ver como inimigos os que pensam e agem de forma diferente. Papai Noel, meu sonho é um mundo classudo, e isso não tem nada a ver com roupa, carros ou joias.
Ver as pessoas se comportando com mais cortesia e amabilidade me encantaria tanto quanto apreciar uma vitrine de bonecos em Nova York, tanto quanto um desfile no Natal Luz de Gramado, seria como me transportar para aquelas bolas de vidro que a gente vira de cabeça pra baixo para fazer nevar. Não tenho nada contra a pieguice da inocência.
Pra mim, Papai Noel, queria mais compreensão. Não dos outros, mas de mim mesma. Queria entender melhor meus medos, minhas carências, minha criancice tão dissimulada em meio a afazeres pretensamente adultos. Queria escutar a menina que ainda sou, entendê-la e satisfazê-la em suas travessuras. A menina em mim esperou eu crescer para se rebelar. Hoje ela me dá ordens: vai viver, deixa de pensar!
Papai Noel, me faz parar de pensar tanto. Se eu continuar pensando tanto, ponderando tanto, deixarei de ouvir a menina em mim e de acreditar na felicidade contida nas coisas simples, como casinhas de boneca e autinhos de plástico.
Gostoso domingo para você. Bom início de semana.
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