terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A sabedoria dos experientes

Ontem à noite, saí para jantar com os meus pais. Entre muitas coisas, falamos sobre o meu encontro com a Senadora Ana Amélia no sábado em Torres e do apelo que fez em público para que eu continuasse na vida política. Claro que as palavras da Ana se propagaram que nem vento e passei a ser questionada pela imprensa, assim como por amigos que pensam como ela. Por outro lado, tem uma parte da minha família que faz uma campanha aberta contra eu voltar à vida pública.


Ao mesmo tempo em que acho curioso esse interesse da imprensa e dos amigos com os meus planos profissionais, compreendo o sentimento de repulsa que tomou conta do coração das pessoas que estão mais próximas. Quando a gente vê alguém que nos é precioso sofrer, quer protegê-lo. A verdade é que eles acompanharam de perto inúmeras surpresas desagradáveis que tive antes e depois das eleições. Pessoas que sempre ajudei quando precisaram e que poderiam se fazer presentes, estiveram ausentes.Vou mais longe ainda, houve casos de pessoas que trabalharam na política com o meu pai e comigo por mais de quarenta anos, que de repente, por um desentendimento com o meu coordenador de campanha - que por sinal conseguiu a proeza de desentender-se com toda a equipe de trabalho, incentivado pela dona confusão, sendo imediatamente afastado do comando - algo que só vim a saber há pouco tempo atrás, desapareceram por completo da campanha. Foi complicado dar falta dessas pessoas que receberam a nossa lealdade e confiança. Meu marido que não é político, portanto não entende esse tipo de atitude, diz que é no mínimo uma falta de vergonha na cara a pessoa ficar no cargo em que foi indicado pelo político e na campanha virar as costas.


Meu pai, que é um político experiente e tem uma visão aprofundada em relação ao ser humano, me disse ontem: “A gratidão é um fardo que se torna pesado aos medíocres, que na primeira esquina encarregam-se de se desfazer dela”. Ele tem razão! O que eu vivi na Secretaria de Estado da Cultura e na campanha dá um bom livro. Então, mesmo as vezes em que fico braba com aquelas pessoas queridas da minha família que se manifestam com verdadeiro horror à possibilidade de uma volta, eu confesso que os entendo e tenho que administrar esse sentimento junto com eles. Meu pai, que me conhece como ninguém e sabedor de tudo isso, teve colocações importantes nessa nossa conversa. Ele tem muito peso, afinal decidi ser candidata à vereadora por estímulo dele. Tive o seu braço firme, apoiando-me para empreender a difícil caminhada política.


Pedro Américo Leal, meu pai, foi o meu professor inspirador, pensador, debatedor e mentor. Instilou em mim uma percepção do dever público que jamais abandonarei. Reforçou minhas crenças, já fortes, sobre lealdade, trabalho duro e comprometimento, virtudes essenciais para esse oficio. Agora, sinto que meu pai, como político, não quer me influenciar nas minhas decisões, mas vejo no seu olhar a preocupação de pai com os obstáculos negativos da vida pública. Ao largá-lo em casa após o jantar ele ainda me falou: “Presta atenção e lembra sempre disso que vou te dizer agora: A vida política traz mais desilusões que a vida amorosa. Como pai eu não quero te ver sofrer e por isso deveria te aconselhar a não voltar, mas, como cidadão, eu sei que o Rio Grande do Sul precisa da tua cadência firme e resoluta na marcha. És um soldado de dever e da honra inegociáveis”.

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