Hoje no almoço conversando com o Marcelo, meu filho do meio - advogado com especialização em meio ambiente - que é uma das pessoas mais bem humoradas e equilibradas que eu conheço, desculpem a falta de modéstia, mas é a mais pura das verdades, basta vocês o conhecerem, ele me contava que tinha ido visitar o avô Pedro Américo com a Fernanda, sua esposa, e a Marcela sua filha de seis meses. Chegando na casa do avô, abriu o portão e empurrou o carrinho pela passarela de bassalto que tem sobre a grama, até os três degraus que antecedem a varanda, onde tem cadeiras, mesas e a rede. A ideia do Marcelo era suspender o carrinho da Marcela e claro que a Fernanda vendo isso, foi ajudar, mas no mesmo momento foi impedida pelo avô, que entrou prontamente em ação, dizendo: " isso não é coisa para uma mulher fazer ". Meu filho ficou muito surpreso com a atitude de alguém que tem 87 anos e no pensamento dele, seria mais do que normal que não fizesse uma força dessas ou se desse a esse trabalho. Sim, ele tem razão, principalmente se considerarmos que hoje é grande o número de pessoas que desconhecem as regras da boa educação e cordialidade para uma convivência civilizada. Mas isso não existe para Pedro Américo Leal, nem que tivesse 100 anos.
Foi então que lembranças da minha infância e adolescência vieram a tona e eu me dei conta de que fui educada por um grande cavalheiro. Lembro que meus dois irmãos e meu pai é que pegavam no pesado. Às filhas mulheres cabiam as tarefas leves. Outra coisa interessante era o cuidado que meu pai tinha com o nosso vocabulário. Era rigorasamente proibido, sob pena de um severo castigo, os meus irmãos dizerem um palavrão na nossa frente, e, por consequencia natural, nós, as filhas mulheres, jamais proferimos uma palavra de baixo calão. Um fato que recordo e hoje acho muita graça, foi com a minha irmã Ângela, na época adolescente. Um amigo foi de bicicleta até a frente da nossa casa de veraneio em Torres, chamou pelo nome dela e logo em seguida assobiou. Meu pai, muito brabo com isso, foi até a calçada e parou na frente do completamente arrependido amigo e falou: " Certamente você errou de casa, porque aqui as minhas filhas não atendem por esse tipo de chamado". Tempos atrás, encontrei o Pimenta, apelido do Carlinhos Arhons, esse amigo da minha irmã, e ele relembrou desse fato. Disse que toda vez que assobia, lembra do meu pai!
Tem muitas histórias da minha adolescência que hoje, quando lembro, me divertem, mas na época em que aconteceram e eu era jovem, eu ficava muito braba. Conforme minhas irmãs, eu fui de todas a que mais questionou as razões pelas quais muitas coisas me eram proibidas de fazer. Meu pai sempre diz que sabia desde cedo que eu seria uma política. Ele brinca que eu já ia à luta pelo que queria. Contei essas histórias para o Marcelo, que concluiu que o avô é, e sempre foi, um lord, e eu diria também, um educador.
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