Eu sabia que algo estava para acontecer. Sim, eu sabia, mas não sei explicar como e porque, apenas estava sentindo uma sensação esquisita. Sempre digo que ficar mãe é ficar intuitiva e confiar no tal sexto sentido que só mãe tem, como uma bula de remédio. Era para ser uma segunda-feira de inicio do mês de maio como qualquer outra. Fazer minha ginástica, tomar suco com amigas no bar da academia quando termina a aula, faz parte da minha rotina depois do programa na rádio Pampa. Mas meu celular tocou e escutei a voz do Felipe perguntando se eu iria demorar a chegar em casa, e aquilo era o indicativo de que ele precisava de mim, de que algo tinha acontecido. Claro, saí que nem vento e devo ter feito o trajeto do bairro Auxiliadora até a Bela Vista em questão de minutos. Por sorte não peguei trânsito naquela hora do dia, algo raro, e com isso percebi que o universo conspirava ao meu favor – pensar assim é da minha natureza positiva. Larguei o carro na frente de onde eu moro, abr i a porta e subi de dois em dois os degraus da escada que leva para os quartos, na parte de cima da casa – pensei no programa de exercícios que a Márcia, minha personal, tinha me passado, com a carga aumentada, e constatei que estava com bom condicionamento físico - e logo vi o Felipe deitado na cama com expressão de dor no rosto. Quando soube que ele se machucara no treino de Jiu-Jitsu e não conseguia ficar sentado e nem de pé, me deu um calafrio no corpo todo. Era preciso entrar em ação de maneira certeira.Depois de algumas ligações a médicos amigos em busca de um especialista de coluna, escolhemos o dr Sérgio Afonso Hennemann, que atendeu o Felipe sem ter espaço na agenda, pois, como se tratava de uma emergência, ele atendeu imediatamente. O doutor foi simplesmente maravilhoso. Lembr o de uma frase que escutei certa vez e que é mesmo verdadeira: "Médicos tem um pouco de Deus”. Da consulta, que foi longa, saímos direto para o hospital Mãe de Deus para uma tomografia computadorizada. Era preciso descartar a necessidade de cirurgia. Feito o exame, que indicou tratamento medicamentoso e repouso absoluto, com sessões de fisioterapia intensas, o Felipe ficou estarrecido, triste com a impossibilidade de participar do campeonato de luta em San Diego na Califórnia agora em junho. Eu , por minha vez, estava aliviada e me deu vontade de dizer para meu filho que a luta era secundária, mas diante da angústia que via no olhar dele, resolvi ficar calada. Cada palavra agora teria um peso muito grande. Eu sabia que precisava manter a serenidade, porque essa seria uma etapa complicada para ele, que é muito jovem, esportista e cheio de planos nessa área. A viagem para o exterior tinha sido organizada desde janeiro desse ano. Todo o salário dele tinha sido economizado para isso, então, montei um verdadeiro esquema de acompanhamento dessa “ tempestade” que acontecia na vida dele. Precisava dar “colo” no momento certo e na medida exata, já pronta para levantar e conduzí-lo na sua nova caminhada que agora seria sem lutar, pelo menos é o que eu penso. Nesse tempo de tratamento, eu fui de tudo um pouco: motorista, enfermeira, amiga e mãe.Nas horas em que ficávamos aguardando as sessões de fisioterapia ou a consulta médica, conversávamos muito e procurava preparar o espírito dele para largar a luta. Ele diz que voltará a lutar. Conseguimos vencer essa batalha juntos. Estou muito feliz! Agora estamos numa outra etapa, que é bem mais tranqüila, e, logo, logo o Felipe voltará a dirigir e cursar normalmente a faculdade.Ensinar meu filho que as situações inesperadas acontecem e exigem muitas vezes, uma mudança de planos, exigiu de mim um grande equilíbr io emocional e responsabilidade com as palavras que penso que só consegui porque coloquei muito amor em tudo que fiz.
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