Era quarta-feira à noite, quando terminei de ler o histórico do Colégio Bom Conselho e da Associação de seus ex-alunos, senti-me transportada para aquele longínquo ano de 1900, quando tudo começou.
Em Porto Alegre, apesar do aumento da população e da conseqüente expansão da cidade, suas atividades essenciais se concentravam no centro que deu origem. Ali ficava, numa esquina da antiga Rua do Rosário, o Colégio Nossa Senhora dos Anjos, mantido pelas Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã.
Dedicadas ao ensino, as Irmãs logo perceberam a necessidade de implantar uma escola no bairro Moinhos de Vento, já bem populoso e essencialmente residencial. Alugaram uma casa e ali começou a funcionar a Escolhinha do Bairro Moinhos de Vento, atendida por três irmãs e uma auxiliar que, diariamente, faziam o trajeto, desde o centro, em bonde puxado por cavalos.
Pouco tempo depois, o aumento do número de alunas comprovava o sucesso da iniciativa, e a casa já estava pequena.
Foi quando a Superiora Geral, Madre Ludmila Birkmann, num lance de grande visão, adquiriu um terreno muito bem localizado, e determinou a imediata construção de um prédio destinado a abrigar a escola e a residência das Irmãs.
Em junho de 1905, naquele bairro que concentrava numerosa população de origem germânica, o novo prédio abrigava três classes de ensino fundamental, na língua alemã e duas de ensino em português, ministradas pelas sete Irmãs que compunham a comunidade religiosa.
No dia 21 de junho de 1905, foi celebrada a primeira missa na capela instalada provisoriamente, e essa data ficou marcada como a de fundação da nova escola, o Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho.
No mês seguinte, o curso de formação de professoras primárias que funcionava no Colégio Nossa Senhora dos Anjos, foi transferido para lá, e durante dez anos deu importante contribuição à sociedade, formando alunas mestras para o magistério gaúcho.
A partir daí, os números foram sempre crescentes.
A freqüência de alunas duplicava a cada ano, e o colégio recebia também alunas do interior do Estado, em regime de internato.Em 1927, as irmãs implantaram o Curso Ginasial, um pioneirismo para o Bom Conselho, que se tornou o primeiro ginásio feminino do Brasil.
Houve outras iniciativas marcantes na época, como a instalação de um curso comercial, nos anos 30, por inspiração da Madre Benícia, que então dirigia o colégio com mentalidade bastante avançada e olhos postos no futuro.
Dezenas de moças, datilógrafas e estenografas, foram preparadas para o mercado de trabalho que, timidamente, começava a se abrir para as mulheres.
Em 1944, um decreto autorizava a abertura do segundo ciclo, com cursos Clássico e Cientifico, habilitando alunas para o acesso à universidade.Foi um crescimento lento e seguro, na qualidade e no espaço físico, desde os tempos da modesta escolhinha até o Bom Conselho que conhecemos nos dias de hoje: sólido, altaneiro, plantado naquela colina do bairro Moinhos de Vento.
À medida em que fui lendo a história do meu colégio, a vontade que tive foi me transportar para a hora do recreio e reunir-me, no pátio, com as minhas colegas de turma.
Pensei até em ligar para elas, mas a madrugada já ia alta.
Com o coração a galope e a mente em ebulição, pus de lado as folhas do histórico e me aninhei para dormir.
Ah! Doce engano! As lembranças, os nomes, as pessoas e as ideias ocupavam a minha mente com tanta intensidade que eu tinha apenas um desejo: o de rever aqueles que fizeram parte da história da minha vida e dizer: mais de trinta anos se passaram do tempo em que estudei no Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho, mas está tudo tão presente, tão vivo, que fecho os olhos e recordo as aulas de bordado, piano, violão, inglês, Francês e arte culinária.
Durante anos, embalada por uma educação tradicional, acreditei que o mundo inteiro estava dentro dos muros altos de um colégio exclusivamente feminino e dirigido por Freiras Franciscanas.Foram elas que imprimiram em mim o hábito de rezar e freqüentar a missa aos domingos, em continuação aos ensinamentos que recebia de minha mãe, católica praticante.
Nas salas de aula, a regra de ouro era não sair da linha.A disciplina era forte, normal, para quem, como eu, era filha de militar.E ali ficávamos sérias e compenetradas, aguardando com paciência, quase ansiosas, um momento que era o ponto alto de cada jornada: a hora da saída.
Na calçada fronteira ao portão, em baixo do Edifício Esplanada, na frente do Joe`s, havia sempre dezenas de rapazes do Colégio Rosário, figurinhas diárias que vinham conferir o desfile das alunas.
Matar o último período de aula era o máximo da travessura que fazíamos.Mas era uma manobra arriscada. Quando descoberta pela Madre Superiora, que mandava averiguar quem havia saído de aula, lá ia um bilhete para os pais, informando a subversão.
Os pais tinham que assinar o recebimento, caso contrário, as alunas eram suspensas, até apresentação do bilhete devidamente assinado.O tempo passou e hoje, acompanhando as mudanças da sociedade, o Bom Conselho deixou de ser um Colégio exclusivamente feminino e abriga meninos e meninas nas classes de Educação Infantil e de Ensino Fundamental e Médio.
Ao terminar esta leitura do histórico do Colégio, pude perceber a importância marcante que teve na minha formação e acredito que o mesmo acontece com cada um de seus ex-alunos.
Ali aprendemos o significado de uma boa educação, da solidariedade e do respeito ao próximo.Tenho certeza de que meu rigor profissional e a visão de que os amigos são o meu maior patrimônio, tudo isso regado com muita saudade, foi cultivado nos bancos das salas de aula do Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho.
Queridas irmãs, professoras, colegas, afirmo aqui a minha profunda gratidão por tudo o que me proporcionaram e pelas boas lembranças que hoje, especialmente, tomaram conta de minhas emoções. Obrigada.
Colégio Nossa Senhora do Bom Conselho |
Crédito da foto: Jornal Porto Alegre
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