sábado, 13 de julho de 2013

Relato de uma vereadora de Porto Alegre

 
Foto: Ester Maria Santurion

Gostaria de passar ao leitor do meu blog, a visão que estou tendo como vereadora e cidadã porto-alegrense, do que está acontecendo desde a quarta-feira na nossa Câmara de Vereadores.
Naquele dia, pelas 17h, durante a sessão plenária, uma centena de manifestantes organizados ocuparam as galerias e depois invadiram o plenário com gritos de guerra.
Na primeira abordagem, os ocupantes pediram para os vereadores sentarem no chão para iniciar o diálogo! Fiquei em pé. 
Entre surpresa e chocada, assisti as reações do bando festejando a invasão do parlamento municipal, subindo nas mesas dos vereadores e da bancada da presidência.
Após essa primeira e única tentativa de conversa, que já demonstrou radicalismo, fui com os vereadores para a sala da presidência onde ficamos reunidos por mais de três horas. 
Lá pelas tantas, convicta de que aquele debate era  inócuo, me levantei  e  fui ao plenário, e confesso a vocês que nem sei o porque fui, pois não tinha nada a fazer lá, mas era como se algo dentro de mim me fizesse ir.
E não deu outra, meu sexto sentido estava certo: foi o tempo de entrar e ver  os invasores hostilizando e expulsando repórteres e cinegrafistas da RBS, já mostrando ao que vieram. Olhei para a jovem repórter acuada por um bando de trogloditas e seus colegas sendo empurrados plenário afora e me coloquei na frente deles.
Com os braços abertos de forma que ficasse claro que para bater neles teriam que bater em mim primeiro, coloquei um fim naquela possível agressão física. Em seguida, abraçada neles, virei as costas e levei-os para o meu gabinete onde permaneceram em segurança. Aquilo me tocou no fundo da alma. Não aceito essas tentativas de impedir o livre exercício do trabalho da imprensa.
Eram 20h30, quando tentei sair da  Câmara  e não consegui. Todos os portões estavam obstruídos pelos manifestantes que impediam a entrada e saída de qualquer pessoa. Liguei para o Chefe de Policia do RS e informei que precisava ir para casa por conta de um familiar que tinha feito cirurgia e ficaria sob os meus cuidados. 
Ele não sabia da invasão no parlamento municipal, então, me pediu alguns minutos para agir. Ao desligar o celular, entrei na sala da presidência e disse o mesmo para os vereadores que continuavam em reunião.
Em vinte minutos, o vereador Kopittke, mais toda a bancada do PT e a vereadora Fernanda Melchionna, do PSOL, acompanhados de uma moça chamada Vick, que se apresentou para mim como, pasmem, coordenadora de segurança da organização manifestante,  me conduziram segura até a saída. Aliás, a tal moça, muito gentil falou: “Vereadora, todos do movimento concordam que a senhora saia para atender seu familiar, então vou lhe acompanhar até o portão.”
Mas, o quadro da loucura continuou na sexta-feira pela manhã, quando os funcionários tiveram que se identificar no portão para entrar em seu local de trabalho! 
Consegui cumprir os compromissos do meu gabinete e fui convocada para outra reunião com todos os vereadores para receber e analisar o documento entregue pelo grupo com reivindicações e exigências.
Na ausência do líder da Bancada do PP, vereador João Carlos Nedel, por motivo de viagem, fui designada para a liderança até 25 de julho, por isso tomei a frente do posicionamento do meu partido frente ao ocorrido, com acordo dos colegas vereadores, Nedel e Villela, de não sentar para negociar com essa turma, que cerceou a liberdade de imprensa, o ir e vir dos funcionários da Câmara e desrespeitou os que foram eleitos com legitimidade para representar a população.
Que movimento democrático é esse? Não é democrático, é terrorista.
Não aceitamos que a Câmara de Porto Alegre fique  refém de um bando que está impondo à presidência da casa legislativa da capital e aos vereadores, suas formas de conduta e ação política confusas e duvidosas identificadas sob o nome de Bloco de Lutas.
Ainda não havia sido terminada a redação da resposta dos vereadores às “exigências”, quando atos de vandalismo e violência começaram a se espalhar pela Câmara.
Portas foram forçadas, as placas de localização dos carros dos vereadores no estacionamento foram pichadas com dizeres depreciativos, foi encontrada uma bomba artesanal debaixo do veículo de um vereador e tudo culminou com uma agressão com empurrões e chutes ao presidente e a um dos fotógrafos da casa e discussão acalorada com o advogado do Bloco.
O presidente, Dr. Thiago, interrompeu as negociações, informou ao governador Tarso Genro da necessidade da presença da Brigada Militar, que apareceu, mas logo recebeu determinação do alto comando para que deixasse o local. 
A Brigada Militar tem um comandante: o governador, que é do PT.  
Eu pergunto, em que sociedade estamos vivendo? Onde a dita liberdade de uns determina a dos outros? E onde autoridades parecem que já não sabem como devem agir?
Na sequência disso, a OAB se fez presente exercendo a mediação entre as partes e trabalhando para que o entendimento jurídico mostre a inviabilidade de muitas das reivindicações, que não são competência do legislativo e sim do executivo municipal, do estadual e do Ministério Público e por isso serão encaminhadas pela Câmara a esses órgãos.
Neste sábado, terceiro dia de ocupação, o presidente da Câmara Municipal entrou com uma ação de reintegração de posse, e felizmente e da maneira como tinha de ser, a decisão do juiz plantonista Honório Gonçalves da Silva Neto, do Foro Central da capitaldeterminou que os manifestantes baderneiros deixem a Câmara Municipal nesta segunda-feira, 15 de julho, tendo por base o artigo 172 do Código Civil, que determina que as reintegrações ocorram em dias úteis, das 6h às 20h.
Como vereadora do município de Porto Alegre, assim espero.



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