Assisti ao último jogo da Copa do Mundo, vibrei com a vitória e aplaudi de pé os alemães. Eles mereceram. E junto a todas as notícias, matérias e balanços que estão sendo feitos desde o domingo, a mim, como cidadã, primeiramente e como jornalista também, me motiva escrever sobre o que tanto nos impressionou enquanto brasileiros: a postura do time da Alemanha.
A conquista do tetra campeonato acontecendo dentro de um Maracanã primeiramente em batalha, com a Argentina, e em seguida em festa, foi a consagração final de uma série de medidas tomadas que são seguidas à risca por aquele país quando o assunto é a sua seleção de futebol.
A equipe alemã não se tornou campeã apenas quando o jovem atacante Mario Göetze emplacou o único gol da partida decisiva, no final do segundo tempo da prorrogação. Ela já chegou ao Brasil campeã de ideias vencedoras, executadas ao longo dos últimos dez anos. Pode se dizer que o que assistimos foi a vitória do planejamento, da organização e da disciplina exemplar dos alemães, acrescidos de altas doses de técnica, estudo, formação multidisciplinar, paciência e persistência e muito treino. Só o técnico Joachin Löw, está há oito anos na função, contratado por um período de tempo razoável o suficiente para a realização de um projeto que tem como objetivo colher bons frutos.
O exemplo que temos no Brasil é bem diferente: a prática de demitir e contratar técnicos como se troca de roupa, conforme os números dos placares; também, de garimpar talentos nos campinhos país afora e achar que só a aptidão natural e a intimidade entre o pé e a bola comum aos brasileirinhos vai produzir um craque – que não teve nem uma escola pública decente, muito menos preparação intelectual e psicológica.
Na Alemanha, depois de amargarem um marasmo em títulos e falta de motivação na década de 90, no início dos anos 2000 e com a proximidade da Copa que iriam sediar (2006), era preciso mudar, nos clubes de base e consequentemente na seleção do país. E eles seguiram, determinados, rumo à efetivas conquistas.
No grande evento aqui no Brasil, além desses aspectos que citei ao longo do texto, ainda sobrou simpatia, educação e respeito com o povo brasileiro, distribuídos por onde passaram, inclusive em campo, quando arrasaram o Brasil com sete gols e declararam que também ficaram impactados, sem deixar de sentir compaixão vendo a tristeza da seleção e de uma nação inteira de torcedores.
Chamou muita atenção também a relação que estabeleceram com o lugar que os abrigou na concentração, a Vila de Santo André, distrito de Santa Cruz Cabrália, no extremo sul da Bahia, e o legado que deixaram nessa passagem.
Naquele reduto de índios pataxós, incentivaram a reforma de um centro de saúde, construíram as acomodações e o campo de futebol especial somente com mão de obra nativa, gerando empregos e criando vínculos. Fizeram uma doação em dinheiro para a compra de um veículo para ajudar no atendimento médico da aldeia e estão financiando um projeto para que os alunos de uma escola pública local almocem e passem o dia inteiro na escola até a próxima Copa do Mundo. Segundo a direção da equipe, foi uma forma de agradecerem, ajudarem e deixarem uma marca.
E a coroação de tudo isso foi mostrada para o mundo todo ao vivo, na comemoração do título no estádio. Os jogadores alemães em círculo, em volta da taça, repetiram um ritual pataxó aprendido lá no sul da Bahia.
Sem dúvida, um conjunto de lições que ficará para sempre na história desse desafio que enfrentamos e realizamos e que a partir de agora vai servir para nossa reflexão, na esperança de muitas mudanças.
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