Em sua coluna de Zero Hora desta segunda-feira, 10, o jornalista Paulo Germano escreve sobre a atual condição do Museu Julio de Castilhos, que se encontra interditado e fechado ao público, e comenta que o mais antigo museu do Estado vem sendo tratado com desleixo por sucessivos governos. Leio a crítica, lamento, reflito, e me remeto ao trabalho lá realizado quando fui Secretaria de Estado da Cultura do RS, de 2007 a 2010, no governo Yeda Crusius.
Durante a minha gestão, nos deparamos com um museu fechado, com uma série de problemas estruturais, museológicos e administrativos. Uma das salas principais do primeiro andar do prédio histórico principal (a casa onde morou Julio de Castilhos) era um depósito de entulhos que impediam inclusive a abertura das janelas e portas que dão para a sacada do prédio centenário da Rua Duque de Caxias, em Porto Alegre, construído em 1887. Por isso, imediatamente nos debruçamos sobre os principais problemas, como as infiltrações e goteiras causadas pelas chuvas e que entravam pelo telhado danificando o museu. Constava que a última reforma que tratou do forro e do telhado havia ocorrido em 1997. Foram então executadas obras urgentes de manutenção da cobertura e pintura interna, além de uma grande limpeza do pátio externo, que contou com a colaboração voluntária de jovens de um projeto social.
Luiz Armando Capra Filho, hoje na Usina do Gasômetro, era o nosso diretor e trabalhou incansavelmente, sempre de forma comprometida e criativa, para fazer muito com poucos recursos, visto o baixíssimo orçamento do Estado destinado para a pasta da Cultura. Ele focou na busca pela habitabilidade do museu no sentido de abrigar, com condições, o acervo, as exposições permanentes e temporárias, e o público. Numa grande união de esforços, a reabertura do museu, em setembro de 2007, só foi possível porque o Banrisul foi parceiro da instituição.
As referidas melhorias proporcionaram a volta das exposições de contexto histórico e didático completamente revitalizadas dentro de uma expografia atualizada e correta. “20 anos da Constituição de 1988 - A Vez e a Voz do Povo” e “Diga X: Retratos de Família”, ambas em 2009, são dois exemplos de mostras realizadas. Como continuidade a este trabalho veio a obra de restauro da fachada do prédio sede, em 2010, garantida com o apoio financeiro da CEEE.
Esta reforma, que visou preservar um dos únicos exemplares de fachada em arenito do Rio Grande do Sul, foi um primeiro passo para começar a resgatar o aspecto original da casa tombada e de tão grande valor. Depois disso, com outras etapas da restauração concluídas, o museu resgatou o acesso do público novamente pela sua porta de entrada (antes se acessava através do prédio anexo). Guardo muito carinho por este meu tempo dedicado ao Museu Julio, orgulhosa por ter contribuído para sua manutenção, dentro do que esteve ao meu alcance.
Mas, sabemos que os sucessivos governos estaduais têm projetos de governo e não de Estado, e as mudanças e descontinuidades a cada nova gestão já são previsíveis. Na área da Cultura, as dificuldades em se manter as instituições culturais vinculadas são recorrentes, o que é lamentável. Deve-se registrar que a atual direção do museu mantem a comunidade informada dos problemas através de um blog. Em 6 de janeiro de 2017 postou que, por determinação da Secretaria da Cultura do RS e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado, o Museu foi fechado ao público visitante para reparos emergenciais em razão de problemas decorrentes de temporais, sem previsão de data para reabertura e que permanecia aberto para os pesquisadores. Na última postagem, de 08 de março, informa que ainda está fechado no aguardo da conclusão dos reparos necessários, anunciando o brechó, enfocado no texto do Germano, e também uma rifa para angariar recursos. Pela minha ligação com essa instituição e ciente de sua importância para a preservação da história e da memória gaúchas, torço para que a situação seja sanada em breve.
Com dirigentes da CEEE e do Banrisul, durante vistoria da reforma do Museu Julio de Castilhos, em 2007 |
Me pronunciando na reabertura do Museu, em setembro de 2007 |
Com a diretora do IPHAE à época, Maria Beatriz Köther e o diretor Capra, conferindo a reforma da fachada de arenito, em 2010 |
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